sábado, 12 de fevereiro de 2011

Os rostos que vemos pela rua.



Texto para o site www.paraguacity.com

Andar pela rua é uma constante análise de fisionomias. Olhamos para as pessoas e tentamos, invariavelmente, descobrir o que elas estão pensando ou sentindo. Arrumamos sempre um tempinho, mesmo no meio da maior pressa, para dar uma olhadinha atravessada nas também aligeiradas faces.

Existem diversos tipos de expressões faciais. Vou citar aquelas que são mais comuns. O cidadão com tipo de executivo, que anda apressado e voltado para algum item dos adereços funcionais como pasta, celular ou chave do carro. O tipo senhor respeitoso, que desfila com o estóico olhar proporcionado pelos anos de vivência. A dona de casa, com sacolas de mercado, carnes e verduras.

Há os adolescentes, em bandos envolvidos com deliciosas gargalhadas sobre qualquer fenômeno que julgam ser paranormal. O operário, pedalando a mais do que reformada bicicleta em busca de algo que o faça esquecer as horas seguidas de exploração. Os projetos de misses, que andam na mais esburacada calçada como se estivessem no São Paulo Fashion Week. E assim vamos caminhando, com o delicado cuidado de não sermos classificados em um dentre esse e vários outros tipos humanos.

Quando criança tinha um encanto todo especial pelos palhaços. Vou repetir, tinha... Acreditava que suas fisionomias expressavam a felicidade mais plena possível. Hoje, principalmente pela alegria e boas energias que transmitem para as crianças, respeito de todo o coração essa bela e cômica profissão, mas meu encanto se foi porque vejo no sorriso profissional desses bravos trabalhadores a tristeza e o desencanto para com nosso mundo.

Esses meus pensamentos sobre os palhaços já me conquistaram tempos atrás. Relembrei-os por conta de uma situação muito especial. Começou o ano letivo de 2011 e, em virtude da minha atividade pedagógica, revi meus colegas de profissão encaminhando-se para as primeiras aulas do período. Nesse memorável momento eu juro que vi os mesmos risos desencantados já identificados nos mencionados profissionais circenses.

Nessa selvagem política de sucateamento do ensino público, o riso do professor se equivale ao do palhaço. Ambos estão extremamente decepcionados com o que fizemos com nossas próprias vidas, dentro desse esmagador mundo canibal, mas seguem suas repetitivas atividades. Conseqüentemente, esses dois profissionais são o alento de nossa abandonada juventude, e por isso ainda conseguem o respeito moral das pessoas de bem, jamais das esferas públicas que deveriam, de fato, valorizá-los.

Nossos professores e palhaços estão com o mesmo sentimento de um capitão consciente, que se não houver nada de extraordinário, o navio vai afundar. O professor educa a mente enquanto o palhaço alegra-a, são atividades essenciais. Voltaire já dizia que educar mal um homem é dissipar capitais, dores e perdas à sociedade.

O palhaço está sozinho no picadeiro enquanto o professor o está na sala de aula. Um passo para fora do picadeiro os risos e gracejos ecoam. Um passo para fora da sala de aula tem sempre um comentário melhor para a ação do professor.

Um passo para fora da sala de aula!

3 comentários:

Caique Honorato disse...

Parabéns pelo Blog .

Unknown disse...

Blog muito bom, parabéns!
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http://lollyoliver.wordpress.com/

Rubi disse...

Como sempre excelente texto.
Adorei as comparações, realmente as coisas são assim, infelizmente.