domingo, 3 de abril de 2011

Allegro para Semmelweis.


Quer irritar uma criança? Peça a ela lavar as mãos antes das refeições. Quando não desobedece ao imperativo adulto, muito contrariada, vai lá e da aquela "umedecida" nas mãos. Aliás, a higiene uma maneira geral é algo muito recente na breve história humana.

Esse ideal de limpeza ganhou espaço nos nossos corações e mentes a partir do século XIX. Antes disso, além de conviver bem na imundície, as pessoas até se deliciavam com ambientes sujos. Muitos dizem que os hábitos e comportamentos são cíclicos, ou seja, eles vão e vem com grande naturalidade. Já pensou se essa moda volta de novo?

O Cristianismo representou um retrocesso na historia da higiene. Enquanto na Grécia e na Roma antiga o culto ao corpo era moral, daí a preservação da saúde, os banhos eram estimulados. Tá certo que eram banhos em piscinas públicas (eca!), mas já servia para a limpeza. Como a religião Cristã acredita no disparate de que o corpo é a fonte dos pecados, qualquer ato que o privilegie é considerado errado.

A higiene pessoal dos Cristãos europeus medievais se resumia em lavar rosto e mãos antes das refeições e passar paninho nos dentes após a farta comida!

Já no período moderno, um decreto do Palácio de Versalhes, em Paris, datado em 1715, dizia que se deveriam retirar as fezes de seus corredores, pelo menos, uma vez por semana. Presume-se que antes disso nem semanalmente isso era feito. E tome bosta real!

A noção de higiene que hoje temos deve-se, majoritariamente, ao crescimento assustador das populações urbanas. A possibilidade de aparecimentos freqüentes de epidemias e o avanço da medicina nas questões sanitárias foram os elementos centrais para essa consciência higiênica.

Quando o médico húngaro, Phillip Semmelweis, descobriu que quem levava as bactérias de um quarto para o outro nos hospitais eram as mãos sujas dos médicos, a medicina entrou em crise. Como pode o médico, o que leva a saúde, também ser o anjo da morte? No final de sua vida, Semmelweis gritava pelas: ruas lavem as mãos!

Outro aspecto de valor relevante para a consideração do ideal de limpeza foi a ideia de controle e domínio das grandes massas humanas. Para o filósofo francês Michel Foucault, a evolução da medicina na Alemanha e o conceito de medicina social na França surgiram na virada do século XVIII para o XIX, devido à ascensão do capitalismo. Para ele, a higiene é uma maneira de controle social que visa o bem do capitalista.

Para nós, meros peões, hoje a higiene cumpre um papel muito importante, pois evita a proliferação de vírus. A conjuntivite, mal que assola as escolas nesse período do ano, pode ser evitada com constantes lavagens das mãos.

Então rapaziada, e também adultos, escutemos Semmelweis!