sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Os pensadores.

Pois então!

Dessa panacéia que foi o grupo filósofos suicidas para as mazelas da pós-modernidade, cada um seguiu seu destino, em busca do que não perdeu, da equidade social e da Karina perdida. Cada um se justificou em uma metafísica impotência para que as coisas não acontecessem da forma como prevíamos, ou seja, a Revolução Suicida. Como não posso nesse ponto responder pelos meus amigos, digo somente a meu respeito, será essa a tônica desse texto e dos vindouros: a mediocridade endossada por um engajamento filosófico e na clausura do gabinete. Limitar-me-ei de agora em diante em pronunciar conceitos e opiniões a sobre as coisas que julgar relevantes, afinal o sonho acabou e o que restou somente foi a lembrança e o dom discursivo.

Segui o meu caminho trilhando as hábeis picadas desbravadas pelos pensadores Ocidentais, conduta essa que até hoje me fascina. Sempre vi as motivações que incentivaram a produção dos mais belos pensamentos, olha que a beleza me encanta hein, em grande maioria, foram inspiradas nos fatos cotidianos. As paixões mais ardentes, as trágicas decepções, os amores impossíveis, perdas de pessoas queridas, enfim, uma serie de sentimentos tão comuns aos seres humanos, são gigantescos impulsos nas mãos dos pensadores. As grandes obras literárias também são grandes monumentos, contudo multicoloridos, às dores e aos pensamentos e sentimentos tão comuns aos seres humanos. Aliás, sobre filosofia e literatura, ainda não consegui fazer uma distinção muito clara, a não ser aquelas dos acadêmicos fundamentalistas.

Sobre a relação entre vida e obra temos os exemplos mais sublimes e os mais contraditórios também. Entre os que se espelham na própria obra. Sócrates, o que preferiu uma morte digna entre os seus do que uma vida indigna no exílio. Machado de Assis, o que soube identificar o poder de persuasão e o domínio completo das mulheres. De que serve o beletrismo, a virilidade e uma vontade incontestável de superioridade; se não resistimos a um olhar de cigana obliquo e dissimulado? Blaise Pascal, o único que soube encontrar razões no coração que transcendem as do cérebro, fazendo dos “Pensamentos” um dos livros que colocam o amor em um pedestal inatingível! Ariano Suassuna, o que soube absolver Severino de Aracaju do eterno enxofre do inferno, porque o cangaceiro havia perdido os pais na infância, exaltando assim sua própria personalidade, enquanto uns matam o mundo em virtude de uma dificuldade, outros escrevem o Auto. Arthur Schopenhauer, um misógino anacoreta que em todo seu trabalho sempre frisou uma suposta inaptidão feminina para atividades complexas, o que denota que nunca conseguiu superar o suicídio paterno e a seqüente libertinagem materna. Dante Alighieri, o que cometeu o mais bem sucedido adultério literário, casado e com filhos construiu uma das obras primas da cultura Ocidental em louvor ao seu amor Beatriz, já falecida decepção amorosa que o poeta nunca superou.

Agora, se formos enumerar os casos de autores que diziam uma coisa e praticava outra, vamos ver exemplos curiosíssimos que beiram a comicidade. Karl Marx; o alemão pai da sociologia, que pregava que o homem deve ser reconhecido pelo valor de seu trabalho, escolheu minuciosamente um marido para sua filha, fazendo-a descartar pessoas que não tivessem condições financeiras de sustentá-la. Camões, o aclamado poeta português, cantava o amor como ninguém mais que na hora de escolher entre o naufrágio de sua amada ou o de “Os Lusíadas”... A literatura universal é sua fiel advogada, tal acontecimento, além de resguardar a memória de Vasco da Gama, foi fonte de inspiração inesgotável para o versejador luso. Fernando Henrique Cardoso, conhecido mundialmente por ser sociólogo e presidente do Brasil, vetou um projeto de lei que determinava a obrigatoriedade das disciplinas de sociologia e filosofia no ensino médio. Faz-se mister um pequeno esclarecimento; colocar o ex presidente numa lista que contem nomes tão referendados pela nossa tradição cultural, não é, de maneira alguma, estabelecer qualquer tipo de relação mas, seguir a regra de expor a discrepância entre discurso e prática, ok?. Jean-Jacques Rousseau, pensador suíço que priorizou a filosofia política, afirma em grande parte de sua obra a importância da família na sociedade colocando-a no status de “célula mater”, entretanto, a cada vez que tinha um filho depositava-os em orfanatos. Quando foi se justificar sobre esse fato, no livro “Confissões” o autor fala que na verdade ele fazia um grande favor aos filhos, pois os livrava das garras de sua sogra, avó das crianças, senhora essa que, segundo ele, se tratava de uma verdadeira megera. E a negação de Pedro? O que dizer?

Podemos seguir indefinidamente essa lista de personalidades que foram fieis à sua obra e também das que não foram. Para cada um desses exemplos citados na relação vida e obra, podemos encontrar uma motivação muito especial para que ele se fizesse o que foi ou é e, aos que seguiram fielmente seus ideais e conceitos, não há como não reconhecer algo de sublime nisso. Alguns podem dizer que não é mais do que obrigação seguir os próprios ideais e exemplos de virtude elaborados por si próprio e não existe nada de sublime nisso, opinião essa que, sem dúvida, tem lógica e coesão argumentativa indestrutíveis, mas que cabe análise. Por um neurologista recomendar aos seus pacientes para que não fumarem e nem façam uso de bebidas alcoólicas, será que é possível ele ser imune a tais vícios? Ou melhor, será que é lícito cobrar dele essa atitude? Não estou fazendo apologia ao discurso “Faça o que eu digo mais não faça o que eu faço”, mas quero salientar que todas as pessoas são humanas e que isso não soe como tautologia. A humanidade é sujeita por natureza à contradição, pois se assim não fosse, ainda estaríamos morando em cavernas. Tem que haver sempre pessoas questionando o discurso postulados tanto por outros como os proposto por si mesmo. Quem nega ao outro não está livre de contra argumentar na prática os princípios por si mesmo estabelecidos, por uma única razão, a novidade! Todo pensamento novo destrói uma lógica historicamente dada e, por isso, não cabe em seu contexto onde, de alguma forma, surgiu. Fala-se em Ágora e democracia já faz uns 2500 anos, até hoje não temos uma prática democrática consolidada, imaginem se fossemos cobrar democracia dos imperadores romanos? E hoje? Ter uma idéia significa tão somente ser o meio que elabora e transmite-a, assim sendo, nossos ideais estão pra o público assim como estão para nós mesmos. Não segui-los é um dos enganos possíveis ao ser humano, jamais um erro imperdoável. Daí a magnitude de ser convicto aos ideais tanto na teoria como na prática!

Não cobremos a perfeição dos outros. As pessoas mais interessantes são as que erram, pois reconhecem sempre a busca pelo o que há de melhor. Os pensa dores!