domingo, 30 de dezembro de 2007

Idéia acidental.

Sempre fui adepto do pensamento que versa que as grandes idéias também contem em si um lance de sorte e acaso. Não que a sorte tenha me ajudado a ter uma grande idéia para a humanidade, posto que várias pessoas já a tiveram, mas foi uma grande idéia para eu mesmo. Dias atrás estava cogitando em tirar esse Blog do ar, pois não estava publicando com uma regularidade que gostaria. Questionei até a razão de ser do gênero Blog, se é que podemos chamar de gênero, quando hoje, dia trinta de dezembro de dois mil e sete, comecei a conversar através do Messenger com uma conhecida de internet, que a encontrei pela primeira vez do Blog do Rodolfo grande amigo de Marília. Começamos a conversar sobre personagens e processo criativo dos escritores. Em certo ponto do diálogo, percebi que ele tinha sido muito esclarecedor, no sentido de ser uma troca de idéias sobre tais conceitos literários. Pedi autorização, via msn também, para publicar esse diálogo, agora com ares de entrevista no Blog e salva-lo, temporariamente, de sua extinção. Acabo de ter outra idéia acidental... Entrevistar diversas pessoas sobre literatura... Talvez eu adie um pouco mais a eliminação do Blog... Vamos lá!
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"Ulisses: Cada torcida tem o time que merece!!! Eis a diferença do Penta campeão para o rebaixado!!!" diz:
Posso dar parabéns pelo Blog de novo?
Fernanda Lizardo diz:
Risos.
"Ulisses: Cada torcida tem o time que merece!!! Eis a diferença do Penta campeão para o rebaixado!!!" diz:
Então parabéns!
"Ulisses: Cada torcida tem o time que merece!!! Eis a diferença do Penta campeão para o rebaixado!!!" diz:
Sabe que li algo hoje... Aquelas coisas que todo mundo leu, mas a gente ainda não, quando lê, fica abismado...........que me lembrou muito seu Blog.
Fernanda Lizardo diz:
O quê?
"Ulisses: Cada torcida tem o time que merece!!! Eis a diferença do Penta campeão para o rebaixado!!!" diz:
Charles Bukowski.
"Ulisses: Cada torcida tem o time que merece!!! Eis a diferença do Penta campeão para o rebaixado!!!" diz:
Sem rasgação de seda gratuita e desnecessária... Mas parece que foi o velho que leu seu Blog antes de publicar.
Fernanda Lizardo diz:
Nossa quem dera... rs
"Ulisses: Cada torcida tem o time que merece!!! Eis a diferença do Penta campeão para o rebaixado!!!" diz:
Sério. O velho safado fala com mais vírgulas. Pensando... Coisa que seu ultimo post abomina. Então quem se inspirou foi ele
Fernanda Lizardo diz:
Exageros à parte... rs
"Ulisses: Cada torcida tem o time que merece!!! Eis a diferença do Penta campeão para o rebaixado!!!" diz:
Então. A Cooper talvez tenha sido uma amante do velho safado que o estimulou, entre outras coisas, a escrever, em algum rincão perdido dos idos de 73?
Fernanda Lizardo diz:
Talvez ele tenha sonhado com ela.
"Ulisses: Cada torcida tem o time que merece!!! Eis a diferença do Penta campeão para o rebaixado!!!" diz:
Idealizado. Já pensei nesses lances de personagens ideais e concretas. Não sei se seria eu o criador ou a criatura que a personagem se esconderia em alguns de meus momentos... Em bom "literaturês" o heterônimo.
Fernanda Lizardo diz:
Não acho que personagens sejam puramente idealizados
"Ulisses: Cada torcida tem o time que merece!!! Eis a diferença do Penta campeão para o rebaixado!!!" diz:
Por que não seriam?
Fernanda Lizardo diz:
Todos eles são um pedaço do autor... Eles exprimem uma espécie de engasgo do autor.
"Ulisses: Cada torcida tem o time que merece!!! Eis a diferença do Penta campeão para o rebaixado!!!" diz:
O que você chama de "engasgo"?
Fernanda Lizardo diz:
Pode ser um medo. Uma vontade. Um alterego. Uma observação. Só sei que está lá dentro do autor. Por mais diferente que o personagem seja dele, ainda é um pedaço dele.
"Ulisses: Cada torcida tem o time que merece!!! Eis a diferença do Penta campeão para o rebaixado!!!" diz:
Então, tudo que de certa forma existe na imaginação pode vir a ser concreto? Ou é o inverso?
Fernanda Lizardo diz:
As duas formas. A concreticidade às vezes fica só no papel. O personagem nasce no livro e o autor "desengasga"
"Ulisses: Cada torcida tem o time que merece!!! Eis a diferença do Penta campeão para o rebaixado!!!" diz:
Trata-se de um universo paralelo?
Fernanda Lizardo diz:
Não sei se tanto. Eu diria que pontos do inconsciente
"Ulisses: Cada torcida tem o time que merece!!! Eis a diferença do Penta campeão para o rebaixado!!!" diz:
Que já não é mais inconsciente, posto que esteja no papel.
Fernanda Lizardo diz:
Exato.
"Ulisses: Cada torcida tem o time que merece!!! Eis a diferença do Penta campeão para o rebaixado!!!" diz:
Então retomamos o velho conceito de catarse? O êxtase artístico... Aquele que matematiza os visitantes do seu Blog...
Fernanda Lizardo diz:
Talvez... Meu Blog era minha maneira de exorcizar fantasmas... E, de certa forma, ele faz isso em algumas pessoas também.
"Ulisses: Cada torcida tem o time que merece!!! Eis a diferença do Penta campeão para o rebaixado!!!" diz:
Não é mais?
Fernanda Lizardo diz:
Não.
"Ulisses: Cada torcida tem o time que merece!!! Eis a diferença do Penta campeão para o rebaixado!!!" diz:
Então ele tem uma vida prória ou algo parecido?
"Ulisses: Cada torcida tem o time que merece!!! Eis a diferença do Penta campeão para o rebaixado!!!" diz:
Própria.
Fernanda Lizardo diz:
Agora tem
"Ulisses: Cada torcida tem o time que merece!!! Eis a diferença do Penta campeão para o rebaixado!!!" diz:
E como você se sente com essa autonomia de "Frankenstein"?
Fernanda Lizardo diz:
Incrivelmente bem.
"Ulisses: Cada torcida tem o time que merece!!! Eis a diferença do Penta campeão para o rebaixado!!!" diz:
Seria como uma mãe que se orgulha da maioridade do filho? Ou não?
Fernanda Lizardo diz:
Nem tanto
"Ulisses: Cada torcida tem o time que merece!!! Eis a diferença do Penta campeão para o rebaixado!!!" diz:
Ok... Devo estar incomodando demais para um leitor... Mas admiro a capacidade das pessoas em estabelecer autonomias para as coisas que fazem... A mais admirável é essa questão da personagem, posto que nasça de um "engasgo"...
Fernanda Lizardo diz:
No fim, o personagem é só algo que o autor gostaria de ser ou representar, ainda que brevemente.
"Ulisses: Cada torcida tem o time que merece!!! Eis a diferença do Penta campeão para o rebaixado!!!" diz:
Ele não pode querer simplesmente "apresentar"?
Fernanda Lizardo diz:
Não
"Ulisses: Cada torcida tem o time que merece!!! Eis a diferença do Penta campeão para o rebaixado!!!" diz:
Você acha que quando, um exemplo, o Garcia Márquez cria a personagem Úrsula nos "Cem anos de Solidão" ele queria representá-la também?
Fernanda Lizardo diz:
Sim, sem dúvida.
"Ulisses: Cada torcida tem o time que merece!!! Eis a diferença do Penta campeao para o rebaixado!!!" diz:
Adorei o "sem dúvida"... Mas é bom conversar também com uma "personagem". Ela fala muito de como foi criada... Por ela mesma
"Ulisses: Cada torcida tem o time que merece!!! Eis a diferença do Penta campeão para o rebaixado!!!" diz:
Fantástico.
"Ulisses: Cada torcida tem o time que merece!!! Eis a diferença do Penta campeão para o rebaixado!!!" diz:
Meu... Li todo esse diálogo que estabelecemos hoje e achei muito esclarecedor...
Fernanda Lizardo diz:
Em que sentido?
"Ulisses: Cada torcida tem o time que merece!!! Eis a diferença do Penta campeão para o rebaixado!!!" diz:
Na questão da personagem... Sua criação, autonomia e submissão do autor. Mais ou menos isso não é?
Fernanda Lizardo diz:
Por aí
"Ulisses: Cada torcida tem o time que merece!!! Eis a diferença do Penta campeão para o rebaixado!!!" diz:
Então. Eu posso colocar ele no Blog em forma de entrevista? Se você não concordar pode estar tranqüila que não o farei.
Fernanda Lizardo diz:
Pode.
"Ulisses: Cada torcida tem o time que merece!!! Eis a diferença do Penta campeão para o rebaixado!!!" diz:
Ok.
"Ulisses: Cada torcida tem o time que merece!!! Eis a diferença do Penta campeão para o rebaixado!!!" diz:
Obrigado.
"Ulisses: Cada torcida tem o time que merece!!! Eis a diferença do Penta campeão para o rebaixado!!!" diz:
Veio-me a idéia agora... Não foi premeditado...

domingo, 22 de abril de 2007

Sobre as manifestações.

Acredito que um dos temas mais relevantes em política é o meio que possibilita a passagem da idéia à prática. A velha noção de práxis, em bom filosofês a prática que orienta a alteração das ideologias, torna-se algo obsoleto propiciando a proliferação de políticas totalitárias. Tal definição deve ser superada e redefinida para questões futuras. Em algum rincão dessa maravilhosa rede de computadores já disse alguma estultícia a respeito, algo sobre o idealizador não ter comprometimento nenhum com a prática. Mantenho a opinião! Realizar a prática partindo de uma teoria é esforço que pode ser feito ou não por qualquer pessoa, desde que conheça seus conceitos, sendo ela o mentor ou não. Então, nesse dilema faz-se maior relevância a questão do conhecimento pleno de uma ideologia pára que ela possa se fazer no plano concreto. Para irmos além da exortação do oráculo, a condição necessária pressupõe também o conhecimento de algo para fora de si mesmo, ou seja, a teoria.

Vemos nas universidades públicas do estado de São Paulo, um indicativo de greve, referente à atitude do governo tucano em impor um gerenciador para o repasse de verba para a educação. O estranho desses acontecimentos é o seguinte: vemos algo que era imoral, o fato de cercear a autonomia da universidade para a administração de suas verbas, tornar-se moral, por uma medida do governo estadual; essa transição do imoral para o moral, foi realizada de forma autoritária, ou seja, desvalorizando princípios elementares da democracia. Contudo, contraditoriamente, a maneira que se pensa em manifestar oposição à ela, é plenamente democrática, posto que as greves são direitos adquiridos e previstos por lei. Ora, se a transição do imoral para o moral foi satisfatoriamente realizada pelos administradores públicos, por vias autoritárias, por que não se pode assumir essa mesma postura na forma de como reagir a tais arbitrariedades? Não estou fazendo apologia ao discurso totalizante nas reivindicações populares, entretanto, temos que pensar uma forma de reclamar diferente das já decrépitas greves. Pôxa vida! No Brasil até o presidente já fez greve! Está mais do que na hora de revermos os conceitos de manifestações, pensando outras vias possíveis de termos nossas vozes reconhecidas pelo estado.

Terça – feira passada, dia dezessete de abril, dentro das manifestações do Abril vermelho do movimento dos trabalhadores sem terra, alguns ativistas ocuparam vinte e cinco praças de pedágio do estado do Paraná. É uma via possível que não a greve? Não creio, pois se trata de atos isolados que partiu da ação rumo à teoria (práxis). Esse tipo de atitude impensada que visa somente aparição na imprensa, tem curto alcance e fortalece o discurso dos opositores do movimento, seja ele qual for. A única coisa que podemos ver de positivo nessas ações é o ineditismo. Posto que já não é mais novidade e que a realidade de sua ação enfraquece as articulações sociais, conclui-se que é um engano insistir nessa qualidade de manifestação.

É notório nos movimentos populares com engajamentos coletivos que reivindicam ao estado democrático de direito, uma porção da propriedade nacional e não direitos trabalhistas e educacionais, um espaço muito fértil para a elaboração de teorias que visem uma via concerta para se abrir um dialogo com o poder instituído. Uma universidade, por exemplo, que paralisa suas atividades em nome de condições de aulas e salariais para seus funcionários, tem mais chance de ver sua voz representada em uma greve. Agora, um sem terra ou um sem teto, vai fazer greve de quê? Para descobrirmos uma teoria que de fato seja compatível com a realidade, tais movimentos propiciam uma discussão muito relevante e profunda. Contemplando idéias que se objetivam na prática, fica mais próximo um ideal coletivo do que pensarmos estritamente para a ação, afinal, os “ismos” do século XX atestam o engessamento que pode ocasionar algo focado tão somente na ação.

Que voltemos então nossas energias para o estudo das grandes idéias que visem a prática, para que essa seja bem justificada e não incorra em repetitivos equívocos. Voltar os olhos somente para a ação pode ser condicionador. Voltar os olhos somente para a teoria pode ser aristocrático. O que fazer então? Começar a pensar já é uma boa escolha!

domingo, 15 de abril de 2007

Policarpos do século XXI.

O cinema é a estética massificada contemporânea por excelência. É a forma em que nossos convivas no mundo, em sua maioria, se relacionam com a natureza humana em uma representação de gênios criativos. Podemos identificar nas condições de criação artística, em todos os tempos da sociedade, o reflexo de suas aspirações ideais e produtivas. Vemos a dificuldade dos diretores em viabilizar concretamente seus roteiros devido ao pouco investimento na técnica cinematográfica, ou seja, muitas idéias na cabeça e poucas câmeras nas mãos (essa dificuldade das câmeras será sanada alguns parágrafos em diante). Enfim, o cinema é um privilegio para poucos, tanto pela dificuldade material de se fazer o filme quanto pela mesma dificuldade que os menos favorecidos tem de vivenciar o que chega até nossa telas, portanto, o cinema é a arte contemporânea massificada por excelência? Atende ao sacrifício da aura da obra de arte, colocada por Walter Benjamin, em nome de uma suposta consciência de classe? Como “brasilisar” uma evolução tecnológica importada?

O dia catorze de abril de dois mil e sete foi importante para a cultura assisense. Foi exibido no cinema municipal o filme Cafundó, dirigido por Paulo Betti, e, no final da exibição, tal diretor veio inundar o auditório do cinema com sua sabedoria cinematográfica. O filme foi estrelado pelo ator Lázaro Ramos, que interpretou o místico João de Camargo, ex escravo que fez a fama de milagreiro na região de Sorocaba; narra a história biográfica desde a infância escravocrata, passando pela lei Áurea, culminando nos milagres atribuídos ao preto velho. Historia essa muito bem contada que, segundo o diretor, teve alguns excertos de ficção. Posto que, o objetivo da filmagem, fosse passar as dificuldades enfrentadas pela tumultuada vida de João de Camargo e seus problemas com a ordem religiosa católica sorocabana, tais metas foram alcançadas. Trata-se de um bom filme histórico.

Depois de uma breve introdução do diretor, antes da projeção, houve um debate sobre o filme ao término do filme. Paulo Betti ressaltou algumas questões sobre a baixa qualidade do áudio da sala. Nesse momento, começaram as discussões sobre a relevância de assistir cinema nacional, como uma forma de valorizar os atores brasileiros que refletem nossa realidade. O diretor assumiu uma postura que fazia apologia às televisões comunitárias como meio de se passar filmes produzidos nas respectivas regiões. Defendia um processo de “capitalização” dos grandes artistas, no sentido deles buscarem carreira nas grandes capitais, pois estaríamos: “Longe demais das capitais”. Disse que uma pessoa havia o procurado com um roteiro de filme e que não tinha condições de levá-lo às vias de fato, pelos impasses materiais. Para solucionar esse problema, sugeriu ao roteirista ir em busca de câmeras digitais, e que na Holanda, havia um festival de cinema somente com roteiros gravados em câmeras de aparelhos celulares. Só não faz cinema quem não quer, resolvendo assim o parêntese aberto no primeiro parágrafo. Idéias brilhantes que nenhum interiorano seria capaz de desenvolver. Sorte a nossa de ter contato com esse tipo de pensamento por meio do diretor, que desceu à plebe com o fim de estimular a atividade artística.

É impressionante a dificuldade que um diretor de cinema tem para divulgar sua arte. Divulgou estatísticas que diziam que das duas mil salas de cinema existentes no Brasil, apenas cinco por cento passam filmes nacionais. Uma vez, quando foi ao festival de Burkina, na urgência de viabilizar recursos para a ida ao continente Africano, teve que angariar recursos com a Rede Globo, que, por sua vez, possibilitou o êxito do empreendimento. Respondeu algumas perguntas feitas pela platéia que, em coros uníssonos de palmas em atrito, tinha sempre a habilidade de interromper o discurso antes de sua conclusão, em virtude de eventuais frases de efeito. Praticamente: “Policarpos do século XXI”.

Findado debate, todos voltaram um tanto mais sábios para casa. Uma verdadeira aula de brasilidade e arte nos tempos atuais. Parabéns aos organizadores!

domingo, 4 de março de 2007

... e o espírito do capitalismo.

Não há nada tão saboroso como os tradicionais “amigos secretos” nos finais de ano. Todas as pessoas que participam de tais festividades, sabem que terão que abraçar dois colegas onde um é anônimo. Está claro o sentido de anônimo, não? Enfim, trata-se de uma tradição quase natalina e comunitária, onde o mais importante é a expectativa do que a premiação em si.

Como não nego convite para entretenimentos dessa envergadura, aceitei participar de um amigo secreto em uma das escolas onde tento trabalhar. Pessoas agradáveis e discursos memoráveis são indícios de algo interessante a se observar, eis o brilhante momento da revelação! No esperado sorteio, acabei por tirar uma professora pela qual tenho demasiado apreço e consideração; contudo, a questão passou a ser qual presente comprar para a colega, resolvida em poucos instantes depois de constatada sua preferência religiosa: o protestantismo.

Que presente comprar? Uma Bíblia Sagrada? Uma camiseta do smilingüido? Para esclarecer melhor as coisas, resolvi ir até uma loja de artigos religiosos, onde poderia ver uma variedade maior de possíveis agrados. Ledo engano. Havia me esquecido de uma das maiores premissas filosóficas: quanto maior a quantidade, mais rigoroso deve ser o critério de especificação; simplificando, me atrapalhei extraordinariamente para conseguir fazer uma boa escolha. Ao recordar o axioma, comecei a aguardar que o critério terminasse de atender outro cliente para que viesse satisfazer minhas dúvidas. Esperei, esperei e esperei. Esperei, saiu a pessoa que estava na minha frente, esperei, esperei...

Um pouco incomodado, percebi que ele não me perguntava: “Pois não?” e isso me causava certa estranheza. Andava em círculos, um tanto inquieto, e nada de me atender. Chegou outra pessoa, ouvi a sintomática pergunta dos vendedores... E não era pra mim. Fiz o exercício de se interpretar dentro de um contexto, eu, cabelos longos, camiseta, bermuda e chinelo dedo. Lamentável! Não há nenhuma chance de querer comprar algo religioso. Eita raciocininho sem jeito!

Comecei a pensar sobre a ética protestante. Ainda bem que a maioria esmagadora, quase unânime, dos protestantes que conheço são pessoas do mais ilibado caráter e consideração pela figura humana. Mas nenhuma delas são comerciantes. Não digo que todos os comerciantes que seguem essa orientação religiosa teriam o mesmo comportamento do colega referido, mas, sem sombra de dúvida, o capitalismo não faz dela uma condição sine qua non.

Comprei o presente em outra loja.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Os pensadores.

Pois então!

Dessa panacéia que foi o grupo filósofos suicidas para as mazelas da pós-modernidade, cada um seguiu seu destino, em busca do que não perdeu, da equidade social e da Karina perdida. Cada um se justificou em uma metafísica impotência para que as coisas não acontecessem da forma como prevíamos, ou seja, a Revolução Suicida. Como não posso nesse ponto responder pelos meus amigos, digo somente a meu respeito, será essa a tônica desse texto e dos vindouros: a mediocridade endossada por um engajamento filosófico e na clausura do gabinete. Limitar-me-ei de agora em diante em pronunciar conceitos e opiniões a sobre as coisas que julgar relevantes, afinal o sonho acabou e o que restou somente foi a lembrança e o dom discursivo.

Segui o meu caminho trilhando as hábeis picadas desbravadas pelos pensadores Ocidentais, conduta essa que até hoje me fascina. Sempre vi as motivações que incentivaram a produção dos mais belos pensamentos, olha que a beleza me encanta hein, em grande maioria, foram inspiradas nos fatos cotidianos. As paixões mais ardentes, as trágicas decepções, os amores impossíveis, perdas de pessoas queridas, enfim, uma serie de sentimentos tão comuns aos seres humanos, são gigantescos impulsos nas mãos dos pensadores. As grandes obras literárias também são grandes monumentos, contudo multicoloridos, às dores e aos pensamentos e sentimentos tão comuns aos seres humanos. Aliás, sobre filosofia e literatura, ainda não consegui fazer uma distinção muito clara, a não ser aquelas dos acadêmicos fundamentalistas.

Sobre a relação entre vida e obra temos os exemplos mais sublimes e os mais contraditórios também. Entre os que se espelham na própria obra. Sócrates, o que preferiu uma morte digna entre os seus do que uma vida indigna no exílio. Machado de Assis, o que soube identificar o poder de persuasão e o domínio completo das mulheres. De que serve o beletrismo, a virilidade e uma vontade incontestável de superioridade; se não resistimos a um olhar de cigana obliquo e dissimulado? Blaise Pascal, o único que soube encontrar razões no coração que transcendem as do cérebro, fazendo dos “Pensamentos” um dos livros que colocam o amor em um pedestal inatingível! Ariano Suassuna, o que soube absolver Severino de Aracaju do eterno enxofre do inferno, porque o cangaceiro havia perdido os pais na infância, exaltando assim sua própria personalidade, enquanto uns matam o mundo em virtude de uma dificuldade, outros escrevem o Auto. Arthur Schopenhauer, um misógino anacoreta que em todo seu trabalho sempre frisou uma suposta inaptidão feminina para atividades complexas, o que denota que nunca conseguiu superar o suicídio paterno e a seqüente libertinagem materna. Dante Alighieri, o que cometeu o mais bem sucedido adultério literário, casado e com filhos construiu uma das obras primas da cultura Ocidental em louvor ao seu amor Beatriz, já falecida decepção amorosa que o poeta nunca superou.

Agora, se formos enumerar os casos de autores que diziam uma coisa e praticava outra, vamos ver exemplos curiosíssimos que beiram a comicidade. Karl Marx; o alemão pai da sociologia, que pregava que o homem deve ser reconhecido pelo valor de seu trabalho, escolheu minuciosamente um marido para sua filha, fazendo-a descartar pessoas que não tivessem condições financeiras de sustentá-la. Camões, o aclamado poeta português, cantava o amor como ninguém mais que na hora de escolher entre o naufrágio de sua amada ou o de “Os Lusíadas”... A literatura universal é sua fiel advogada, tal acontecimento, além de resguardar a memória de Vasco da Gama, foi fonte de inspiração inesgotável para o versejador luso. Fernando Henrique Cardoso, conhecido mundialmente por ser sociólogo e presidente do Brasil, vetou um projeto de lei que determinava a obrigatoriedade das disciplinas de sociologia e filosofia no ensino médio. Faz-se mister um pequeno esclarecimento; colocar o ex presidente numa lista que contem nomes tão referendados pela nossa tradição cultural, não é, de maneira alguma, estabelecer qualquer tipo de relação mas, seguir a regra de expor a discrepância entre discurso e prática, ok?. Jean-Jacques Rousseau, pensador suíço que priorizou a filosofia política, afirma em grande parte de sua obra a importância da família na sociedade colocando-a no status de “célula mater”, entretanto, a cada vez que tinha um filho depositava-os em orfanatos. Quando foi se justificar sobre esse fato, no livro “Confissões” o autor fala que na verdade ele fazia um grande favor aos filhos, pois os livrava das garras de sua sogra, avó das crianças, senhora essa que, segundo ele, se tratava de uma verdadeira megera. E a negação de Pedro? O que dizer?

Podemos seguir indefinidamente essa lista de personalidades que foram fieis à sua obra e também das que não foram. Para cada um desses exemplos citados na relação vida e obra, podemos encontrar uma motivação muito especial para que ele se fizesse o que foi ou é e, aos que seguiram fielmente seus ideais e conceitos, não há como não reconhecer algo de sublime nisso. Alguns podem dizer que não é mais do que obrigação seguir os próprios ideais e exemplos de virtude elaborados por si próprio e não existe nada de sublime nisso, opinião essa que, sem dúvida, tem lógica e coesão argumentativa indestrutíveis, mas que cabe análise. Por um neurologista recomendar aos seus pacientes para que não fumarem e nem façam uso de bebidas alcoólicas, será que é possível ele ser imune a tais vícios? Ou melhor, será que é lícito cobrar dele essa atitude? Não estou fazendo apologia ao discurso “Faça o que eu digo mais não faça o que eu faço”, mas quero salientar que todas as pessoas são humanas e que isso não soe como tautologia. A humanidade é sujeita por natureza à contradição, pois se assim não fosse, ainda estaríamos morando em cavernas. Tem que haver sempre pessoas questionando o discurso postulados tanto por outros como os proposto por si mesmo. Quem nega ao outro não está livre de contra argumentar na prática os princípios por si mesmo estabelecidos, por uma única razão, a novidade! Todo pensamento novo destrói uma lógica historicamente dada e, por isso, não cabe em seu contexto onde, de alguma forma, surgiu. Fala-se em Ágora e democracia já faz uns 2500 anos, até hoje não temos uma prática democrática consolidada, imaginem se fossemos cobrar democracia dos imperadores romanos? E hoje? Ter uma idéia significa tão somente ser o meio que elabora e transmite-a, assim sendo, nossos ideais estão pra o público assim como estão para nós mesmos. Não segui-los é um dos enganos possíveis ao ser humano, jamais um erro imperdoável. Daí a magnitude de ser convicto aos ideais tanto na teoria como na prática!

Não cobremos a perfeição dos outros. As pessoas mais interessantes são as que erram, pois reconhecem sempre a busca pelo o que há de melhor. Os pensa dores!

terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Sobre o título.

Talvez alguém possa ficar um pouco chateado em perguntar da onde a origem do nome. Gastar algumas linhas para o esclarecimento dessas pessoas, que pode não ser tantas assim, até não ser nenhuma, confesso, exercício de pavoneamento próprio em nome de um suposto achado literário. Em outras palavras, todo legionário ja deve ter se familiarizado com a expressão "filósofos suicidas" no primeiro album do grupo de Brasília, em específico, na faixa "Petróleo do futuro". Simples e objetivo, não acham? Fazia um certo tempo que vinha maturando a idéia de um blog, contudo, sem o incentivo de alguns amigos e o imperativo das experiências humanas nas relações primárias, a execução desse projeto ficaria tão somente no plano das intenções; evento esse muito comum entre os amantes da sabedoria. Aliás, em discussões vindouras, poderemos debater a questão sobre a passagem das idéias aos fatos.

Voltemos ao título. Situando-o no seu contexto musical, vemos o seguinte panorama textual: "Filósofos suicidas. Agricultores famintos. Desaparecendo embaixo dos arquivos"; ainda mais como pressuposto o postulado "Petróleo do futuro", as conclusões são as seguintes. 1- Petróleo é uma alegoria para energia, então no caso se trata de alguma coisa que mova o futuro (a música é de 1985). 2- Falar em filósofos suicidas e agricultores famintos não é hipérbole quando eles desaparecem embaixo dos arquivos; não há exagero posto que o futuro é tido como algo meio burocrático, dada a menção aos arquivos. Assim sendo, em uma projeção colocada numa modernidade em relação a 1985, vemos a naturalidade dos filósofos se matarem, não no sentido literal de Deleuze, vendo sua atividade como improdutiva e sem nenhum efeito, fato esse bem natural se comparado com a atividade filosófica hoje; os agricultores famintos , infelizmente, não são tão alegóricos assim...

Os filósofos suicidas são cônscios das suas limitações. Todo discurso filosófico tem uma ambição universal, embora seja ele na realidade uma fala muito local e regionalizada. Quando se analisa o pensamento de determinado filósofo, por mais pontual que se diga, sua pretensão será sempre a amplitude. Ser um filósofo suicida é ter a clareza da ineficácia de suas próprias idéias ante o horizonte multifacetado por subjetividades e hibridismos diferentes. Muitas vezes, para um filósofo da tradição ocidental, reconhecer que suas idéias não são onipresentes, onicientes e onipotentes; é uma tarefa demasiado exaustiva e suicida.

Ontem recordei uma crônica do Rubem Alves que versa uma estória de um galo que virou poeta; lembrei por acaso, em um comentário que estava fazendo com meu primo sobre as habilidades do cronista enquanto literato. Essa estória do galo que cantava para o sol nascer... Um dia ele perdeu a hora e não cantou... O sol nasceu do mesmo jeito transformando assim o penoso protagonista em motivo de chacota de todo o curral. No dia seguinte ele não perdeu a hora e cantou como se nada tivesse acontecido, questionado sobre a razão dele cantar sem necessidade, o galo respondeu que havia se transformado agora em poeta e simplesmente iria continuar cantando. Diria que os filósofos que adorariam o reconhecimento da universalidade de seu discurso, sabem que nunca serão universais e continuam discursando...São os filósofos suicidas!!!

Sejamos suicidas no sentido de falar pra ninguem! Que as flores nos sirvam de testemunhas, pois talvez a única coisa mesmo que faça sentido é a textura estética das coisas do mundo, desde a suavidade vigorosa das pétalas até o eco de um discurso decrépito, contudo, belo. Endurecer sem perder a ternura. Rejeitar os fervores de um amor seguro em nome de um passo no escuro, porque isso é belo! Os filósofos suicidas somente não suportam a truculência e a falta de vicosidade...Muito mais o Clinton bombardeando o Iraque e recebendo favores da estagiária do que o Bush bombardeando o Iraque do alto de seu anglicanismo piorado. Reverência à beleza!!!