domingo, 3 de abril de 2011

Allegro para Semmelweis.


Quer irritar uma criança? Peça a ela lavar as mãos antes das refeições. Quando não desobedece ao imperativo adulto, muito contrariada, vai lá e da aquela "umedecida" nas mãos. Aliás, a higiene uma maneira geral é algo muito recente na breve história humana.

Esse ideal de limpeza ganhou espaço nos nossos corações e mentes a partir do século XIX. Antes disso, além de conviver bem na imundície, as pessoas até se deliciavam com ambientes sujos. Muitos dizem que os hábitos e comportamentos são cíclicos, ou seja, eles vão e vem com grande naturalidade. Já pensou se essa moda volta de novo?

O Cristianismo representou um retrocesso na historia da higiene. Enquanto na Grécia e na Roma antiga o culto ao corpo era moral, daí a preservação da saúde, os banhos eram estimulados. Tá certo que eram banhos em piscinas públicas (eca!), mas já servia para a limpeza. Como a religião Cristã acredita no disparate de que o corpo é a fonte dos pecados, qualquer ato que o privilegie é considerado errado.

A higiene pessoal dos Cristãos europeus medievais se resumia em lavar rosto e mãos antes das refeições e passar paninho nos dentes após a farta comida!

Já no período moderno, um decreto do Palácio de Versalhes, em Paris, datado em 1715, dizia que se deveriam retirar as fezes de seus corredores, pelo menos, uma vez por semana. Presume-se que antes disso nem semanalmente isso era feito. E tome bosta real!

A noção de higiene que hoje temos deve-se, majoritariamente, ao crescimento assustador das populações urbanas. A possibilidade de aparecimentos freqüentes de epidemias e o avanço da medicina nas questões sanitárias foram os elementos centrais para essa consciência higiênica.

Quando o médico húngaro, Phillip Semmelweis, descobriu que quem levava as bactérias de um quarto para o outro nos hospitais eram as mãos sujas dos médicos, a medicina entrou em crise. Como pode o médico, o que leva a saúde, também ser o anjo da morte? No final de sua vida, Semmelweis gritava pelas: ruas lavem as mãos!

Outro aspecto de valor relevante para a consideração do ideal de limpeza foi a ideia de controle e domínio das grandes massas humanas. Para o filósofo francês Michel Foucault, a evolução da medicina na Alemanha e o conceito de medicina social na França surgiram na virada do século XVIII para o XIX, devido à ascensão do capitalismo. Para ele, a higiene é uma maneira de controle social que visa o bem do capitalista.

Para nós, meros peões, hoje a higiene cumpre um papel muito importante, pois evita a proliferação de vírus. A conjuntivite, mal que assola as escolas nesse período do ano, pode ser evitada com constantes lavagens das mãos.

Então rapaziada, e também adultos, escutemos Semmelweis!

quarta-feira, 23 de março de 2011

A dor e o alívio.



A dor é uma das poucas coisas que igualam todos os seres humanos em uma única comunidade. É uma sensação horrorosa e, principalmente alguém que já sentiu intensamente seus nefastos efeitos, compadece-se com grande facilidade com a agonia dolorosa do outro.

Quando falo em dor estou me referindo à física. De maneira muito geral, dor é uma sensação transmitida ao cérebro principalmente pelas vias nervosas. Não me aventurarei a fazer mais nenhuma especulação biológica sobre ela, pois seria uma temeridade ainda maior do que a já cometida.

Por incrível que pareça existe uma história da dor. Na antiguidade, ela era relacionada às ações dos demônios. Os primeiros que vincularam a percepção da dor com o sistema nervoso e o cérebro foram os gregos, através da sábia e inigualável figura do filósofo Aristóteles.

Hoje, com o avanço da medicina, a dor já não é vista como o mal a ser eliminado, mas como efeito de uma causa a ser diagnosticada. Um médico responsável receita analgésicos, para aliviar os incômodos de seu paciente, e também pede exames para verificar qual a razão biológica do desconforto.

Semana passada senti a alucinante cólica de rim. Transpirava um suor frio e chegava a desferir coices no ar! A tragédia dos atendimentos hospitalares, pelo menos nos momentos de dores agudas, são as famosas perguntas sobre endereço, idade e estado civil. Que horinha mais imprópria para perguntas, não acham?

Fui medicado com um, três mil vezes abençoado seja, buscopan, que foi aplicado na veia da minha mão. Quando o auxiliar de enfermagem tirou a agulha da pele, a dor já tinha ido embora. Que sensação maravilhosa! Passei por um exame de urina e estou passando por outros exames. Desconfia-se de cálculo renal, ou seja, estou bebendo muita, muita e muita água.

No dia em que passei por essa crise, no momento em que fui deitar com a intenção de dormir, pensei: - Como é bom não sentir dor. Entretanto, para pensadores como o grande Arthur Schopenhauer, a felicidade é uma grande ilusão e apenas a dor é real. Porque é através dela que tomamos consciência da nossa existência. Passamos o dia todo em cima dos pés, só nos percebemos a realidade dele, exatamente quando há um calo bem latejante nos perturbando.

Prefiro a ilusão!

terça-feira, 15 de março de 2011

Bolsa feminina: um buraco negro no universo masculino


Alguém já parou pra notar o quanto uma mulher demora pra escolher uma bolsa? Ficam horas e horas pra ficar na dúvida entre umas cinco e, depois que fazem a mais do que avaliada opção, o resultado é um dolorido arrependimento. Não é remorso pela suposta alternativa errada, mas por não ter levado, no mínimo, três! É engraçado.

A bolsa é um acessório muito comum entre as mulheres. Com diferentes tamanhos e estilos acabam sempre aos montes nos guarda roupas femininos, pois existem modelos adequados para diversas circunstâncias, o que, normalmente, acaba sendo a justificativa para tanta escolha e bolsa.

Na realidade me divirto com esse ritual protagonizado pelas mulheres. Uma vez fui com minha namorada comprar bolsa, pois ela ne-ces-si-ta-va de uma bem pequena e preta para combinar com um vestido e ir em paz consigo mesma num casamento. Achamos várias, mas nenhuma estava boa. Até que num momento, não mais que um momento, encontrou a tão esperada bolsa. Aleluia! (Cá entre nós, praticamente idêntica às outras outrora desprezadas). Acho que o cansaço foi fator mais determinante do que o modelo.

Até o século XIX, tanto os homens quanto as mulheres, usavam as bolsas presas na cintura. Deus do céu a pochete era moda! Argh! No século XX as mulheres colocaram alças nas delas e as penduraram nos ombros, ao passo que os homens, reduziram seu volume dobraram e enfiaram nos bolsos (carteiras). Evolução da espécie...

Qual a relação entre os buracos negros e as bolsas das mulheres?

Antes de qualquer filosofia é melhor um pouquinho de física. Os buracos negros são pontos no universo que tem tanta matéria que nem a luz consegue sair desses lugares. Imaginem o perigo de um quarto tão cheio de bugigangas onde nem conseguimos ver a iluminação. Há também os buracos negros formados depois da queima completa de uma estrela, com massa de três vezes maior que a do sol, ou seja, depois dela queimar todo o seu gás passa a queimar a si mesma e desaba sobre si mesma.

Então! Essas grandezas físicas que ficam penduradas nas mulheres são dotadas de uma variedade infinita de objetos. Tudo se encontra nas bolsas! Os registros são múltiplos: cinzeiro; alicate de pressão; controle remoto; ração pra peixe de aquário; corda de violão; garantia de bateria; garfo; e por aí vai...

Inocentes homens prestem atenção. Jamais fareis a seguinte pergunta para uma mulher: será que você não carrega nenhum amante dentro da bolsa? Porque a resposta pode ser: ter eu não tenho, mas o telefone de vários sim!

quarta-feira, 9 de março de 2011

Os povos e as praças.



As praças são lugares de confraternizações de uma comunidade. As crianças se divertem jogando bola, brincando no parquinho ou correndo pelas gramas. Os vendedores ambulantes de pipoca e caldo de cana lucram seus valorosos reais. Os idosos distraem a solidão em disputadas rodadas de truco. Adolescentes skatistas deslizam suas velozes rodas pelo liso pavimento...

Existe uma praça que marcou muito a minha infância. Ela fica em Assis – SP, na Avenida Dom Antonio, bem defronte à diretoria estadual de ensino. Nela o saudoso avô levava todos os seus quatro netos para brincar. Eu, meu querido irmão e os não menos queridos primos; andávamos de bicicleta e construíamos castelos nos bancos de areia. Essa é uma feliz recordação que tenho de meu avô, pois quando o bom senhor faleceu eu tinha apenas onze anos.

Ano passado a praça passou por uma reforma que descaracterizou todo o charme implícito desde os anos oitenta. Fiquei, num primeiro momento, bastante revoltado em ver os tratores destroçarem o paraíso de minha feliz infância, entretanto, depois de uma necessária reflexão, entendi que as mudanças são inevitáveis e que a juventude de hoje precisa de um lugar mais adequado para a atual realidade.

Esses locais comunitários também desempenham uma função eminentemente política. No Movimento Diretas Já, o vale do Anhangabaú na cidade de São Paulo, teve um papel importantíssimo, pois tinha condições de receber mais de um milhão de pessoas. Com uma massa de gente desse tamanho, não há militar que se mantenha no poder.

Mês passado aconteceu a mesma coisa, só que a cidade é o Cairo, o país é o Egito e a praça se chama Tahrir. O interessante é que o significado dessa palavra árabe, em português, é liberdade. Ali, os egípcios lutaram pela democracia por várias semanas, ainda hoje muitos permanecem por lá, para garantirem que a junta militar fique apenas o período suficiente para a organização de uma eleição para presidente. Preocupação mais do que justificada, pois no Brasil ficaram por vinte e um anos com a mesma intenção... Até todo mundo ir pro Anhangabaú!

Na Líbia, os protestos contra o ditador Muammar Khadafi, tem se concentrado na cidade de Benghazi e na Praça Shajara. Nela os rebeldes líbios que lutam contra a ditadura em tal país manifestam, lutam, gritam e morrem pela democracia. E quando esse pulha do Khadafi for escorraçado de lá, a praça será o emblema de um povo em nome de uma irmandade nacional mais justa.

Jean-Jacques Rousseau já dizia que a liberdade pode ser apenas conquistada, jamais recuperada. Acredito que o início da segunda década do século vinte um pode simbolizar um marco importante: a consciência mundial de que não somos livres politicamente. Há algo de monstruoso, nos bastidores, que sustentou o egípcio Hosni Mubarak, que ainda mantém Khadafi e que segura todos os governos federais espalhados pelo mundo. É contra esse monstro que os povos devem lutar.

Agora entendem porque as praças são, estrategicamente, abandonadas no Brasil? Elas unem as pessoas contra as injustiças que sofrem no cruel cotidiano.

Às praças!

quarta-feira, 2 de março de 2011

O luto das palavras.


Querer viver para sempre é um sentimento juvenil. Na medida em que envelhecemos, para quem não se acostuma com a idéia de que um dia vai contar seu último segundo no planeta, pelo menos vai aceitando de que será a personagem central de um velório. Tudo passa e uma hora, fatalmente, nós também passaremos.

Não gosto de refletir sobre um tema tão pesado quanto a morte, entretanto, uma força muito maior que meu desejo faz com que dedique minhas desastradas e tristes palavras para tamanha abordagem. Afinal, o último domingo passou o grande Moacyr Scliar.

Agigantou nossas letras pela sua própria humanidade. Fez-se porta-voz da cultura judaica em nossa pátria. Provou pra todo mundo que não é preciso se fazer de coitado, depois da Segunda Guerra Mundial, para falar da história do povo judeu e nem ficar lamentando o Holocausto, pois está claro que seja qual for o ataque à integridade humana ela é digna de repulsa e condenação.

Lutou sim contra as mazelas sociais, seguindo o exemplo incontestável de Che Guevara, professando a bela função médica especializando-se em saúde pública. Militou na literatura contra a opressão de um besta regime militar e, através de sua fina habilidade com a língua portuguesa, traduzindo em suas páginas as diversas possibilidades dos anseios humanos.

Não está mais na moda querer salvar o mundo; pensar numa política que seja humana e igualitária; no bem da sociedade como um todo; querer acabar com a fome, a miséria e a corrupção e ver no outro a mesma dignidade que tanto vemos em nós mesmos. O que fazemos em nossos dias é defender um escasso salário em detrimento da nossa vergonha moral.

Um lugar como esse não merece um imortal como Moacyr Scliar, pelo contrário, precisa dele.

Sim! Ele é imortal! Não porque uma academia reconheceu, mas pela sua perseverança. Por ser o único soldado do exército de um homem só e jamais desistir. Sua resistência sobrevive, mesmo antes de seu nome virar troféu e prêmio de concursos literários, ela já figurava nas práticas que motivam os grandes realizadores.

Estou planejando, ao lado do amigo, filósofo e publicitário Sanabria, uma viagem pela América Latina com o objetivo de passar nas cidades onde vivem e viveram os grandes escritores de nossa cultura. No percurso, o projeto era passar em Porto Alegre para conversar com Moacyr...

Por vezes agradeci a oportunidade de não ter vivenciado a dor do dia da passagem de John Lennon. Hoje as lágrimas são para Moacyr Scliar.

Descanse em paz.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Um exemplo a seguir.



Texto para www.paraguacity.com

Algumas pessoas são nossas referências. Formam nossa opinião com idéias e exemplos de conduta. Seja um idoso da família; um escritor que traduz em palavras sentimentos que ainda não conhecíamos, mas que sempre estiveram no íntimo; um fundamento religioso; uma ideologia política e por aí vai.

O mesmo acontece com nossa formação civilizatória. O início daquilo que hoje chamamos de organização social e política se deu no Egito antigo. Pirâmides; Faraós; classes sociais; relações comerciais; leis e várias outras instituições comunitárias vieram ao mundo por meio das mentes egípcias.

Recentemente, nossos jornais têm mostrado a reação do povo no Egito para com seu, agora ex, ditador Hosni Mubarak. No último dia onze de fevereiro, após sucessivos protestos populares, o chefe máximo do executivo egípcio viu-se forçado a renunciar. O Supremo Conselho Militar das Forças Armadas assumiu o comando prometendo eleições diretas assim que possível.

Os Estados Unidos, sempre preocupados com a democracia no mundo, durante os trinta anos de ditadura no Egito não mostraram sua insatisfação. Lembrando que os argumentos das armas químicas e do restabelecimento da democracia foram as razões alegadas para a guerra do Iraque, mesmo contrariando a resolução contraria da ONU (Organização das Nações Unidas).

Afinal, ditador amigo pode continuar?

O Egito é um país que fica na margem do Rio Nilo, posto que apenas quatro por cento de seu território é habitável. Não é gratuitamente que Heródoto já disse que o Egito é a dádiva do Nilo. A luta do povo egípcio contra Mubarak estende-se também ao imperialismo estadunidense.

Isso ocorre escancaradamente em nosso país. Metas para a educação, desemprego, juros abusivos e benesses para os grandes capitalistas são parte desse grande polvo com seus mortais tentáculos esparramados pelo mundo. Até quando vamos suportar tudo isso? Quando vamos seguir o exemplo do Egito?

O modelo de resistência já está dado. Mobilização popular! Independente da filiação sindical ou partidária.

Até quando?

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Literatura de cordel é a voz do povo.


Alceu Valença lança o videoclipe do Frevo da Lua, seu novo sucesso, que celebra o carnaval de Recife e Olinda. O clipe está disponível no www.youtube.com.br/canalvalenca, no facebook de Alceu e no twitter @Alceu_Valenca.

As imagens foram captadas pelo cinegrafista Sérgio Bezerra durante vários carnavais nas ruas das duas cidades – em frente à casa de Alceu na rua de São Bento, no Alto da Sé, no Largo da Amparo, em Olinda, e no Marco Zero, no Recife. A edição é de Gilson Martins, da TV Viva.

A mais nova incursão de Alceu pelo gênero foi composta em parceria com Mauricio Oliveira (baixista da banda de Alceu) e Gabriel Moura, com arranjo do Maestro Duda.

“É o frevo mais bonito que já gravei. Fico arrepiado quando o povo canta comigo: Lua tão linda, lua lua lua de Olinda / o sol abraça Recife, tá chegando o carnaval / lua lua lua linda”, exalta Alceu, que ensina o refrão ao vivo às platéias para que se apresenta, com adesão imediata do público.

Quem quiser aprender para cantar nos shows de carnaval junto com Alceu, pode baixar a gravação original do Frevo da Lua, disponível para download grátis no site http://www.alceuvalenca.com.br/


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A literatura de cordel representa uma das expressões mais populares possíveis. Chega ao entendimento dos doutores e das pessoas mais simples de nossa rica sociedade, despertando o encantamento e a reflexão.

Possui uma métrica simples. Seus versos são de sete sílabas poéticas. Esse recurso também é muito utilizado por escritores de canções destinadas ao grande público. Modas de viola, sertanejas e poetas da chamada MPB; lançam mão dessa estrutura para se fazerem entendidos pelas massas.

Ser simples não significa ser banal, pois escrever nessa forma literária exige trabalho. Gênios como Patativa do Assaré, Rodolfo Coelho Cavalcante e Leandro Gomes de Barros; dominam tanto essa elaborada técnica poética que a fazem parecer natural e fácil, claro que para eles.

Não precisa ser mestre em literatura para compor essas pérolas das páginas brasileiras, mas ter a sensibilidade do poeta. Muitos escritores de literatura de cordel são analfabetos, entretanto, falam suas poesias perfeitamente metrificadas. Trata-se de um dos aspectos mais democráticos da cultura humana!

Alceu Valença nesse seu grandioso projeto está mais do que certo. Mostra a qualidade do povo para o povo. Todo mundo entende, reflete sobre e tira suas conclusões. Uma obra de arte não precisa de palavras difíceis para ser clássica!

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Vencido o prazo de validade do Fenômeno.


Sempre quis saber o que se passa dentro de uma lata de extrato de tomate. Em seu interior, curtido nos mais poderosos conservantes, o tomate em si passa o resto de seus dias. Com a sua vermelha e perseverante paciência espera o magnânimo instante em que o feroz abridor de latas os reapresentem à luz de seu último dia.

Uma coisa me intriga com bastante força. Acompanhem meu raciocínio... Todo extrato de tomate tem um prazo de validade, a pergunta é: O que acontece dentro da latinha entre as 23h59min e 00h00min do dia estipulado para que o produto esteja vencido? Será que os produtos que eram conservantes passam a ser agressivos?

O atacante Ronaldo teve seu prazo de validade vencido. Uma carreira de jogador de futebol que dispensa comentários, pois foi marcada por grandes vitórias, superações e, é claro, derrotas. Qual é o ser humano que não passa por derrotas? Enfim, trata-se de um jogador diferenciado.

O baixo rendimento nos jogos mais recentes e o duelo com a balança, aparentemente, foram as razões da aposentadoria do jogador. Entretanto, algumas considerações precisam ser colocadas.

Quanto ao problema do peso, Ronaldo alegou a doença do hipotireoidismo, dizendo que as doses hormonais necessárias seriam acusadas nos exames anti-dopping. Agora é que entra a polemica, vários jogadores passam pelo mesmo tratamento contra esse mal, conseguem manter a forma e os remédios não atingem níveis de serem considerados proibidos para a praticado futebol. O atleta Carlos Alberto, que hoje atua pelo Grêmio de Porto Alegre, passa pela mesma enfermidade, mantém a forma e não interfere nos exames de dopagem.

Afinal, o que "venceu" o prazo de validade do Ronaldo?

Aponto um conjunto de fatores. Começa que ele não se interessa mais em emagrecer (futuro financeiro garantido); também o avanço da idade, pois mesmo que se fizesse um regime satisfatório a partir de agora, evidentemente, mesmo magro faria as jogadas que fizera outrora, mas seria cobrado por ser o Ronaldo; e o ponto mais importante, a injusta cobrança de uma torcida que se diz fiel, acostumada às derrotas na Copa Libertadores, em cima das desvantagens físicas que o Fenômeno está apresentando.

No Brasil aposentar-se significa cair no esquecimento e nas unhas da previdência social, duas coisas que não vão acontecer com Ronaldo, mas que a campanha para o pendurar das chuteiras, creio que inconscientemente, acabou fazendo. Essa mentalidade é implícita no discurso que prega a aposentadoria do atacante. Vícios arraigados em nossa preconceituosa cultura.

Os aposentados da previdência permanecem no limbo e a camisa 9 da seleção brasileira continua vaga...

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Os rostos que vemos pela rua.



Texto para o site www.paraguacity.com

Andar pela rua é uma constante análise de fisionomias. Olhamos para as pessoas e tentamos, invariavelmente, descobrir o que elas estão pensando ou sentindo. Arrumamos sempre um tempinho, mesmo no meio da maior pressa, para dar uma olhadinha atravessada nas também aligeiradas faces.

Existem diversos tipos de expressões faciais. Vou citar aquelas que são mais comuns. O cidadão com tipo de executivo, que anda apressado e voltado para algum item dos adereços funcionais como pasta, celular ou chave do carro. O tipo senhor respeitoso, que desfila com o estóico olhar proporcionado pelos anos de vivência. A dona de casa, com sacolas de mercado, carnes e verduras.

Há os adolescentes, em bandos envolvidos com deliciosas gargalhadas sobre qualquer fenômeno que julgam ser paranormal. O operário, pedalando a mais do que reformada bicicleta em busca de algo que o faça esquecer as horas seguidas de exploração. Os projetos de misses, que andam na mais esburacada calçada como se estivessem no São Paulo Fashion Week. E assim vamos caminhando, com o delicado cuidado de não sermos classificados em um dentre esse e vários outros tipos humanos.

Quando criança tinha um encanto todo especial pelos palhaços. Vou repetir, tinha... Acreditava que suas fisionomias expressavam a felicidade mais plena possível. Hoje, principalmente pela alegria e boas energias que transmitem para as crianças, respeito de todo o coração essa bela e cômica profissão, mas meu encanto se foi porque vejo no sorriso profissional desses bravos trabalhadores a tristeza e o desencanto para com nosso mundo.

Esses meus pensamentos sobre os palhaços já me conquistaram tempos atrás. Relembrei-os por conta de uma situação muito especial. Começou o ano letivo de 2011 e, em virtude da minha atividade pedagógica, revi meus colegas de profissão encaminhando-se para as primeiras aulas do período. Nesse memorável momento eu juro que vi os mesmos risos desencantados já identificados nos mencionados profissionais circenses.

Nessa selvagem política de sucateamento do ensino público, o riso do professor se equivale ao do palhaço. Ambos estão extremamente decepcionados com o que fizemos com nossas próprias vidas, dentro desse esmagador mundo canibal, mas seguem suas repetitivas atividades. Conseqüentemente, esses dois profissionais são o alento de nossa abandonada juventude, e por isso ainda conseguem o respeito moral das pessoas de bem, jamais das esferas públicas que deveriam, de fato, valorizá-los.

Nossos professores e palhaços estão com o mesmo sentimento de um capitão consciente, que se não houver nada de extraordinário, o navio vai afundar. O professor educa a mente enquanto o palhaço alegra-a, são atividades essenciais. Voltaire já dizia que educar mal um homem é dissipar capitais, dores e perdas à sociedade.

O palhaço está sozinho no picadeiro enquanto o professor o está na sala de aula. Um passo para fora do picadeiro os risos e gracejos ecoam. Um passo para fora da sala de aula tem sempre um comentário melhor para a ação do professor.

Um passo para fora da sala de aula!

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Amanhecemos e assim começamos o dia.


Texto para o site www.paraguacity.com


As pessoas acordam todos os dias, com passos cambaleantes, se dirigem ao banheiro e escovam seus dentes. Lavam o rosto e, quando não há quem faça, iniciam o sonolento processo de realização do café da manha. Gastam os sagrados minutinhos matutinos na arte ruminante de desjejum. Algumas conseguem conversar com um familiar, pois outras acordam sozinhas e afagam o animal de estimação. Amanhecemos e assim começamos o dia...

Há aqueles que acordam ao relento. Uns dormem enquanto outros enxergam os encardidos e ásperos concretos das pontes da vida como teto. Um tanto não dorme, com os olhos vermelhos e arregalados por drogas ou pela ausência delas, perambulando em busca dos centavos da manhã. Amanhecemos e assim começamos o dia...

O que há em comum entre essas ações?

Não digo que são frutos da atividade humana, posto que aos miseráveis, pelo menos na prática, é até vedado o direito de ser humano. Entretanto, procuramos insistentemente um laço que nos faça ver que não estamos sozinhos no mundo. O que une todas as pessoas em um único rebanho é a política.

Se alguém acorda todo dia numa casa, por alguma razão política ela está o cobrindo; seja por mérito pessoal (trabalho) ou qualquer outra situação regulada por lei.

Os que acordam debaixo da ponte, por motivações políticas, acabaram nessa desgraçada condição (o mesmo valendo para os viciados).

Andar na rua, bem conservada ou não, está claro as questões políticas que implicam a existência de uma rua. Se chegamos ao trabalho, significa que não fomos assaltados, ou coisa pior, pelo caminho. Infelizmente muitos não chegam. Alíás, uma falange de pessoas procura o tal trabalho. Deixamos nossa vida e saúde trabalhando ou na caça dele, o que vai exigir uma política de previdência para os anos de aposentadoria.

Voltamos depois que o patrão libera, para nossos lares. Assistimos televisão. As manchetes sangrentas dos jornalistas da última hora anunciam as mortes espetaculares do dia. Banho, jantar, jornal, novela, futebol e cama; não necessariamente tudo no mesmo turno, mas como um desejo.

Tudo é política!

Aí lá no Egito parece um milhão de pessoas pedindo a cabeça do presidente. Malucos? Insensatos? Desocupados? Políticos! E o melhor... Sem nenhuma organização sindical ou partidária. Creio que por isso mesmo conseguiram tantos seguidores, pois não há essas falsas lideranças que se disfarçam de esquerda, com uma maldita estrela no peito ou um carnívoro tucano no ombro, que na realidade acalmam os explorados ânimos dos trabalhadores. Apoio aos bravos egípcios e fora ditador!

Aristóteles já falava que o ser humano é um animal político por sua própria natureza. Nossas organizações políticas não são degeneradas, as pessoas que estão nelas sim. Vamos seguir o instinto político e moralizar as organizações. Se não o fizermos agora, outrora os milhões farão. Com muito mais dignidade, mas até lá, incontáveis vidas serão inocentemente levadas.