
A dor é uma das poucas coisas que igualam todos os seres humanos em uma única comunidade. É uma sensação horrorosa e, principalmente alguém que já sentiu intensamente seus nefastos efeitos, compadece-se com grande facilidade com a agonia dolorosa do outro.
Quando falo em dor estou me referindo à física. De maneira muito geral, dor é uma sensação transmitida ao cérebro principalmente pelas vias nervosas. Não me aventurarei a fazer mais nenhuma especulação biológica sobre ela, pois seria uma temeridade ainda maior do que a já cometida.
Por incrível que pareça existe uma história da dor. Na antiguidade, ela era relacionada às ações dos demônios. Os primeiros que vincularam a percepção da dor com o sistema nervoso e o cérebro foram os gregos, através da sábia e inigualável figura do filósofo Aristóteles.
Hoje, com o avanço da medicina, a dor já não é vista como o mal a ser eliminado, mas como efeito de uma causa a ser diagnosticada. Um médico responsável receita analgésicos, para aliviar os incômodos de seu paciente, e também pede exames para verificar qual a razão biológica do desconforto.
Semana passada senti a alucinante cólica de rim. Transpirava um suor frio e chegava a desferir coices no ar! A tragédia dos atendimentos hospitalares, pelo menos nos momentos de dores agudas, são as famosas perguntas sobre endereço, idade e estado civil. Que horinha mais imprópria para perguntas, não acham?
Fui medicado com um, três mil vezes abençoado seja, buscopan, que foi aplicado na veia da minha mão. Quando o auxiliar de enfermagem tirou a agulha da pele, a dor já tinha ido embora. Que sensação maravilhosa! Passei por um exame de urina e estou passando por outros exames. Desconfia-se de cálculo renal, ou seja, estou bebendo muita, muita e muita água.
No dia em que passei por essa crise, no momento em que fui deitar com a intenção de dormir, pensei: - Como é bom não sentir dor. Entretanto, para pensadores como o grande Arthur Schopenhauer, a felicidade é uma grande ilusão e apenas a dor é real. Porque é através dela que tomamos consciência da nossa existência. Passamos o dia todo em cima dos pés, só nos percebemos a realidade dele, exatamente quando há um calo bem latejante nos perturbando.
Prefiro a ilusão!