terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Sobre o título.

Talvez alguém possa ficar um pouco chateado em perguntar da onde a origem do nome. Gastar algumas linhas para o esclarecimento dessas pessoas, que pode não ser tantas assim, até não ser nenhuma, confesso, exercício de pavoneamento próprio em nome de um suposto achado literário. Em outras palavras, todo legionário ja deve ter se familiarizado com a expressão "filósofos suicidas" no primeiro album do grupo de Brasília, em específico, na faixa "Petróleo do futuro". Simples e objetivo, não acham? Fazia um certo tempo que vinha maturando a idéia de um blog, contudo, sem o incentivo de alguns amigos e o imperativo das experiências humanas nas relações primárias, a execução desse projeto ficaria tão somente no plano das intenções; evento esse muito comum entre os amantes da sabedoria. Aliás, em discussões vindouras, poderemos debater a questão sobre a passagem das idéias aos fatos.

Voltemos ao título. Situando-o no seu contexto musical, vemos o seguinte panorama textual: "Filósofos suicidas. Agricultores famintos. Desaparecendo embaixo dos arquivos"; ainda mais como pressuposto o postulado "Petróleo do futuro", as conclusões são as seguintes. 1- Petróleo é uma alegoria para energia, então no caso se trata de alguma coisa que mova o futuro (a música é de 1985). 2- Falar em filósofos suicidas e agricultores famintos não é hipérbole quando eles desaparecem embaixo dos arquivos; não há exagero posto que o futuro é tido como algo meio burocrático, dada a menção aos arquivos. Assim sendo, em uma projeção colocada numa modernidade em relação a 1985, vemos a naturalidade dos filósofos se matarem, não no sentido literal de Deleuze, vendo sua atividade como improdutiva e sem nenhum efeito, fato esse bem natural se comparado com a atividade filosófica hoje; os agricultores famintos , infelizmente, não são tão alegóricos assim...

Os filósofos suicidas são cônscios das suas limitações. Todo discurso filosófico tem uma ambição universal, embora seja ele na realidade uma fala muito local e regionalizada. Quando se analisa o pensamento de determinado filósofo, por mais pontual que se diga, sua pretensão será sempre a amplitude. Ser um filósofo suicida é ter a clareza da ineficácia de suas próprias idéias ante o horizonte multifacetado por subjetividades e hibridismos diferentes. Muitas vezes, para um filósofo da tradição ocidental, reconhecer que suas idéias não são onipresentes, onicientes e onipotentes; é uma tarefa demasiado exaustiva e suicida.

Ontem recordei uma crônica do Rubem Alves que versa uma estória de um galo que virou poeta; lembrei por acaso, em um comentário que estava fazendo com meu primo sobre as habilidades do cronista enquanto literato. Essa estória do galo que cantava para o sol nascer... Um dia ele perdeu a hora e não cantou... O sol nasceu do mesmo jeito transformando assim o penoso protagonista em motivo de chacota de todo o curral. No dia seguinte ele não perdeu a hora e cantou como se nada tivesse acontecido, questionado sobre a razão dele cantar sem necessidade, o galo respondeu que havia se transformado agora em poeta e simplesmente iria continuar cantando. Diria que os filósofos que adorariam o reconhecimento da universalidade de seu discurso, sabem que nunca serão universais e continuam discursando...São os filósofos suicidas!!!

Sejamos suicidas no sentido de falar pra ninguem! Que as flores nos sirvam de testemunhas, pois talvez a única coisa mesmo que faça sentido é a textura estética das coisas do mundo, desde a suavidade vigorosa das pétalas até o eco de um discurso decrépito, contudo, belo. Endurecer sem perder a ternura. Rejeitar os fervores de um amor seguro em nome de um passo no escuro, porque isso é belo! Os filósofos suicidas somente não suportam a truculência e a falta de vicosidade...Muito mais o Clinton bombardeando o Iraque e recebendo favores da estagiária do que o Bush bombardeando o Iraque do alto de seu anglicanismo piorado. Reverência à beleza!!!